Akureyri Revisited

Subia por uma rua íngreme e pedregosa, levava um saco pesado de serapilheira grossa que me me arranhava as costas. Cheguei a uma casa branca com um muro alto e um grande portão de ferro verde. Lá dentro um jardim: plantas altas, árvores, um lugar sombrio com um laguinho central. Uma escada subia para a casa. O lago tinha muitas tartarugas de todos os tamanhos; tentei escolher uma para levar à Dulce, mas quando me decidia por uma ela conseguia sempre escapar-me.

Berglind, Karen e outra rapariga desceram e e disseram-me que a Andrea estava fechada no quarto e não me queria ver nem receber o saco que lhe trazia. A Karen tinha um vestido branco, ria sem parar e parecia diferente. Estava loura, como quando era criança. A Berglind vestia um fato-macaco laranja estranho e sujo; disse-nos que estava a trabalhar nas plataformas de petróleo. Decidimos que era melhor levar o saco para a casa da Berglind [que por alguma razão não vivia na mesma casa da irmã]. De repente era de noite e tinhamos de nos apressar porque a casa de Berglind era no outro lado de Akureyri.

Caminhámos por uma estrada de terra que rodeava uma colina. Viamos Akureyri lá em baixo, uma cidade enorme com muitos edifícios altos em ruas paralelas. Eu disse que era muito bonita com todas as luzes acesas. Nesta altura a Karen tinha de novo o cabelo preto, mas parecia muito gorda e alta.

Tinhamos de descer e atravessar uma ponte sobre o rio. Era perigoso porque ali viviam os portugueses, todos eles marginais e traficantes de droga. Sobre a ponte um homem muito alto, muito escuro aproximou-se; queria o nosso saco. Agarrou-me, mas a Karen e a Berglind fugiram com o saco. Segurava-me, tinha de olhar para cima para o ver, tinha duas vezes a minha altura. Puxou de uma grande seringa com uma longa agulha e apunhalou-me no peito. Lutámos, caímos no rio.

Então estava perdido em escarpas junto ao mar. Tinha de encontrar a estação de caminhos de ferro para apanhar o combóio para Portugal (para a Moita) e pensava que ia ter fome numa viagem tão longa. A falésia era amarelada com arbustos e rochedos redondos. Debaixo de uma pedra algo se movia: pequenas tartarugas marinhas. Fui agarrar uma para levar à Dulce, mas correu para o mar. De repente já não era uma tartaruga, era um sapo. Pensei “é um sapo bonito, mas a Dulce não o vai querer” . Voltei à rocha e vi que só havia sapos, uma massa negra, confusa e viscosa de sapos.


[então o telemóvel tocou e acordei. eram 4 da manhã e alguém se tinha esquecido das chaves de casa]

z.